29 maio, 2007

Nostalgia in "scriptum"

Prato de jantar com talher em cruz. Capuccino em pó dissolvido na água quente, farelos de pão em cima da mesa e pedaços de palito quebrados ao redor da xícara. Televisão ligada, e muda. Noite quente. Solidão inesperada.

Lá estava ela, orelhas retorcidas, folhas amareladas, em seu isolamento permanente na banquinha de centro. Esquecida, também.

Pegou. Soprou a poeira. Pôs em cima dos farelos de pão. Abriu na letra L.

Liana Borges, amiga da faculdade que facilitou sua vida nas provas de filosofia. Dr. Lauro Coelho, oftamologista que curou a catarata incurável da avó. Lasagneta, comida italiana para pedir e comer em casa. Lucas, riscou. Lavanderia. Lúcia Ester, professora de canto lírico. Leonardo Porco, azar da mulherada no estágio. Laura, Tia Laís, Padre Lino...

Nomes, endereços, números, contatos, fatos.
Na mesa de centro, borrados de tinta azul em papel amarelado, tão presentes quanto silentes.

Abriu o C, o J, o P. Conhecia mais gente do que imaginava. Estavam todos ali, eternizados, cheios de lembranças e histórias inesquecíveis.

Fechou. Por um instante, esqueceu a solidão. Foi para o quarto e guardou os presente-ausentes na gaveta de cabeceira. Ficou melhor, depois de sentir a multidão. Dormiu (...)