25 abril, 2007

ITALIANA, EU?

Estou em Veneza. Romantica e cheia de flores demais para alguém que veio de férias absolutamente solteira. Mas os passeios sao inesquecíveis. O estilo de vida, o sorriso das pessoas, o gellato na esquina, e o euro voando dos bolsos. Isso nao tem preço na minha vidinha onde nada de muito interessante acontece corriqueiramente.

O maior problema que tenho enfrentado são os italianos. Muito velozes e atentos, aproximam-se com muita facilidade. E conversam, como se eu entendesse. Esta tarde, depois de horas de argumentação balbuciando três linguas, fui salva pelo dono de uma cafeteria, que colocou um homem alto e lindo para correr, sob a ameaça de chamar a polícia. Mas o lindo era um mala, mesmo. E o outro, que me salvou, se tornou um amigo, desses que a gente sente saudades quando vai embora. Até chamei-o para minha festa de aniversário, num ristorante aconchegante, perto da Piazza de San Marcos. Amanha, o aniversario mais diferente da minha vida, comemorado por pessoas que nao sao as minhas, mas que ja sao bastante especiais por dividirem esse momento.

Também descobri coisas, desde Portugal.
Que a gente nao pode deixar o tempo nos consumir com coisas que nao fazem sentido.
Que europeus também são mal-educados e grosseiros, especialmente os portugueses.
Que há muitas brasileiras fazendo turismo sexual na Italia, a gente as vê aos montes e finge que não sabe falar a mesma lingua ou que não está entendendo nada.
Que ir a Fátima devolve espiritualidade a qualquer um.
Que estou engordando, mas saindo muito bem nas fotos.
Que sou feliz agora, e que tenho mais razões para ser depois desse momento bom.

Saudades das pessoinhas que eu quero bem, mas com vontade de permanecer nessa terra linda...
Nao tenho mais tempo, internet aqui custa muito. E meus euros falam, a todo tempo. Eles dizem ciao!

23 abril, 2007

Doçura

Eu, você, seu melhor amigo, todos nós - homens ou mulheres - temos um quê de abelha. Sabemos fabricar mel e, ao mesmo tempo, conservamos nossos ferrões escondidos. Talvez faça parte, mesmo, da natureza da gente.
Na verdade, a doçura é uma via de mão dupla. A gente dá e a gente quer receber. Se não for assim, bem, aí as abelhas podem mostrar o ferrão. Podem picar, até. Podem fugir, depois, para isentar-se da culpa.
Eu acho que estamos ficando acostumados demais com a falta de doçura. A frieza parece estar instalada no ambiente como se fosse um móvel de canto. A luta pelas conquistas, especialmente as materiais, influencia muito no nosso nível de doçura. Tudo é feito "para ontem", pois ninguém tem tempo a perder. Essa corrida me irrita, faz mostrar o meu ferrão. Sinto muito dizer, mas quem não herdar uma mega fortuna terá que trabalhar pelo menos vinte horas por dia para conquistar o mundo material dos sonhos. Então, como arranjar um tempo para preparar um jantar para a família, cantar uma música, conversar de mãos dadas ou olhar as estrelas? Talvez seja tempo de repensarmos nossos valores. Para sermos felizes, precisamos prestar mais atenção nos pequenos detalhes que tornam a vida mais doce. É como um casal de velhinhos que vi outro dia, num banquinho da beira-mar. Conversavam, sorriam, sempre gentis um com o outro. Possuiam algo muito precioso: uma doçura no olhar. Decidi que quero ser como eles. Ter a cabeça deles. Na verdade, agora é que eu entendi. Os cabelos brancos eram puro algodão doce.

15 abril, 2007

Passou...

Cadê você? Já se foi.
Sem avisar, e sem esperar um instante.
Por que você está sempre com tanta pressa?
Por que não ficou só mais um pouquinho?

Queria tanto que você voltasse...
Poderíamos ficar mais sem fazer nada.
Poderíamos fazer tudo a mais.

Há tanto que você não esperou que eu dissesse.
Há também tanto que você não me disse...

Foi tão rápido que, quando vi, você já era lembrança.

Prometo que, se você voltar, tudo vai ser diferente.
Aproveitarei melhor a sua presença.
Aprenderei mais com suas lições.
Preparar-me-ei melhor para sua ida inevitável.

Quero avisar-lhe que não o esquecerei.
Não o deixarei em paz.
Vou buscá-lo, onde você estiver.
Reviverei sua companhia.
E sei que encontrarei você.

E, frente a frente, talvez descubra o que não entendo.
Verei que você não se foi em vão.
Que você tinha mesmo que ir, em seu silêncio esclarecedor.
E que não o perdi, mas o eternizei.
Com a minha saudade que não passa
E com o desejo de tê-lo por mais alguns instantes.

Até, então, amigo tempo.
Se quiser voltar, estarei aqui.

12 abril, 2007

Em "transe"to

Dobrei na José Vilar, mas não era para dobrar. Fiz o balão, avançando uma preferencial. Peguei um engarrafamento só para conseguir chegar de novo na João Carvalho. No rádio, o pancadão da MC Perla me tirava o juízo. Tentei mudar e ouvi a voz da Samantha Marques. Desliguei. Segui em frente por mais dois minutinhos, só enquanto dava tempo de ficar no mundo da lua e ligar de novo o piloto automático, que é burro e não sabe o caminho. No sinal, o flanelinha jogou água no vidro e eu tive que dar meu último bombom serenata de amor porque não tinha moedas. O celular tocou na bolsa mas não consegui achar. Subi o canteiro e atravessei a Heráclito Graça. O povo buzinava atrás porque eu pensava a 40Km na faixa da esquerda. Peguei a Antônio Sales e respirei na faixa do meio. Achei o celular. A ligação perdida não era para ser esquecida. Retornei e ganhei o meu dia. Nem sabia mais para onde é que eu estava indo. Sei que desisti e voltei pra casa.

11 abril, 2007

Aninho novo

Meu amorzinho louro está mais velho...
Vejo junto das velinhas apagadas uma mulher corajosa, que não tem medo de desafios.
No contrasenso, uma menina doce, que chora de felicidade com um bip na caixa postal.
É nessa completude que ela é única, e por mim tão amada.

08 abril, 2007

sentidos

Ainda estou trabalhando sobre meu alfabeto. O cheiro daquela camisa não sai do meu estômago. Vejo minhas unhas de uma cor com gosto de melancia. A mão fria segurando o garfo faz barulho na minha cabeça. Meu hidratante 3d acabou e peguei um resfriado de tanto comer ovo de páscoa.

07 abril, 2007

a bisavó

Do longínquo passado para o presente, estava aqui a lembrar de Dona Raimunda dos Anjos. Aos noventa anos incompletos, minha bisavó é a mulher mais resistente que conheço. Visitei-a ainda esta manhã. Estava em seu quartinho dos fundos, encolhida numa rede rosa com seu vestido floral. Parecia cansada, com a vista cinzenta, mas ainda ensaiou uma risadinha quando fiz cócegas em seus pés número 35, exatamente do tamanho dos meus. Depois de horas de conversas sem sentido e de enchê-la de beijos, pedi que me abençoasse. Tão linda a bênção: Deus te leve em paz, e que te dê um bom rapaz. Tive vontade de pegá-la nos braços e beijá-la mais, trazer para tomar de conta por toda a vida. Amor de mãe, de vó, e de bisavó (quantos ainda podem dizer isso?) não tem tempo, nem preço, nem idade. É por isso que eu aproveito.