02 dezembro, 2008

Fábula de Natal

Papai Noel chegou mais cedo esse ano na minha bota vermelha pendurada na janela – quisera numa lareira com chaminé daquelas que aparecem nos filmes. Nem pensei que ele tivesse lido todas as cartas dos últimos anos, falando de todos os sonhos que pareciam meras letras repetitivas de uma sempre menina que nem sempre soube o que quis. Mas ele leu. Meu presente chegou gosto de pato crocante e vinho do porto. Aterrissou sorrateiramente, como um piloto experiente, num lugar onde pouca ou nenhuma gente conseguiu ir. Curou insônias, prescreveu doses diárias de carinho e transformou meu recomeço numa torta sonho de valsa depois de um longo dia de trabalho. Meu presente, tão especial quanto tantos que já tive, divide a extemporaneidade de sua chegada com a ousadia de enfrentar uma batalha de medos em mim. Difere-se em sua coragem, cumplicidade, paciência. É um ser incessante. Arranca um sorriso da minha incerteza, e num abraço acalma minha ansiedade. Ser presente, assim tão presente, só mesmo numa embalagem plástica transparente, enlaçada pela magia de um conto de natal. Coisas de um Papai Noel sem tempo para pensar num tempo certo.